quinta-feira, 1 de novembro de 2007

O ano de 2007


Vânia Moreira Diniz

Este ano foi difícil. Perdi minha mãe que parecia ainda forte e o choque foi inesperado e profundo. Realmente nunca pensamos que as pessoas que amamos possam repentinamente ir embora. No fundo esperávamos uma despedida que a morte não enseja.

Claro, passei em 2007 por alguns acontecimentos agradáveis, mas nada superou a dor da morte de minha mãe. O chão desapareceu de meus pés e parece que eu ia afundar num abismo estarrecedor.

Essa é a sensação que o desaparecimento de alguém querido nos dá no momento exato que acontece. Depois a angústia nos consome e com a agitação dos amigos chegando ficamos meio petrificados pelo choque e uma calmaria triste nos acerca. Mas quando os primeiros dias passam a ferida se abre ainda mais e achamos que jamais o céu voltará a ser azul, as estrelas cintilantes ou o horizonte colorido. Isso porque a agonia nos domina completamente durante longo tempo. O sofrimento da perda não passa, mas a aflição vai amainando dando lugar a uma saudade que nos dilacera.

Vejo seu rosto bonito, os olhos perscrutadores a me fixar com amor e imagino a minha infância em suas variadas facetas.Penso na altivez de sua figura, serenidade de suas maneiras, a postura perfeita sentada ou andando e que meus irmãos, eu e todos que a conheceram sempre admiraram e não consigo que sua imagem deixe de estar presente em todos os momentos de minha vida.

É como se minha mãe jamais tivesse se afastado de mim, tal a força com que sinto sua vigorosa presença até nos pequenos detalhes, em gestos sutis e amenos, em seu modo de concordar ou discordar e na decisão que imprimia em seus gestos.

Estamos no Dia de Finados, lânguido, triste, vagaroso e este ano passa por meus pensamentos como um raio, tamanho a pressa e nitidez com que vejo as imagens distribuídas em minhas reminiscências.

São tão intensas as batidas do meu coração que fico parada, sem poder me mover, embora interiormente a vibração seja quase insuportável. E então os detalhes fazem de meu presente momento um encadeamento de sensações descontroladas, porém sempre necessárias ao viver pleno.

Os trezentos e sessenta cinco dias desse período estão se extinguindo, o dia 2 de novembro caminhando e contribuindo para a saudade de muitas pessoas que perderam seus entes queridos.

Temos consciência desde pequeninos desse finito tempo de caminhada e por isso a pressa de realizar os sonhos que constituem uma das necessidades preponderantes de nossa existência.

As lembranças fortes deste ano vão ficar indeléveis, principalmente a imagem e convivência que mantive com minha querida mãe tantos anos e que hoje transformaram-se em saudades e reminiscências.

Não poderei esquecer em nenhum momento seus gestos, palavras, o modo de sorrir, as reações frente qualquer acontecimento e a certeza do amor que sentia quando me carregou durante nove meses em seu seio. Ela estará presente em todos os instantes e tenho certeza que ouvirei a sua voz sempre, quando tiver que decidir algo de suma importância ou no redemoinho da estrada que ora percorro. Será como um filme que estará sempre sendo exibido em meus pensamentos ou no meu coração e ao qual assistirei com imensa ternura. A saudade permanente me acompanhará pelo resto de minha vida.
Vânia Moreira Diniz

02-11-2007

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