domingo, 16 de dezembro de 2007

Parabéns, Mamãe

Vânia Moreira Diniz
15-12-2007

Minha mãe morreu este ano, mais precisamente no fim de maio, deixando uma profunda saudade e não poderemos hoje comemorar o dia do seu aniversário.

Uma data muito especial principalmente quando meu pai estava vivo e a festa em comemoração reunia toda a família. Éramos oito irmãos e a alegria enchia toda a casa de felicidade.

Hoje acordei com a sensação que faltava uma luz e que o dia estava escuro e descolorido. As cores que eu tanto amo não brilhavam e o mundo todo era cinza e preto.

O seu aniversário estava sendo comemorado, sim, mas dentro do coração de cada um dos filhos, agradecendo a Deus pela ventura que foi conviver com ela, amá-la, sentir seu temperamento fascinante, tão diferente, mas ao mesmo tempo incrivelmente sedutor.

Um vácuo imenso tomava conta do meu coração e eu a sentia tão bem, o sorriso bonito brilhando no espaço, os cabelos que não eram mais grisalhos, porém voltavam a ser negros como graúna, e os olhos acompanhavam a alegria que transparecia em seu rosto.

Retornei aos meus tempos de infância, vendo-a tão bonita, sentindo o perfume que me enfeitiçava e querendo sentar no sofá da sala para responder às suas perguntas ou sentir a presença sempre tão especial.

Ela estava em minhas recordações profundas tão radiosamente exuberante que ouvia os ecos da festa em sua homenagem, meu pai tão perto a oferecer-lhe o infalível e lindo presente de todos os anos escolhido com carinho e nós todos ali partilhando os momentos de felicidade e alegria que se repetia todos os anos.

Ali estava a casa em fôramos criados, grande, o quintal abrigando nossas brincadeiras, gritos e brigas, e a certeza da presença de nossos pais, o porto seguro de anos a fio.

Minha mãe morreu em maio, o mes que ela tanto apreciava, num dia comum de semana e a sentia caminhando como gostava de fazer e trazendo essências de vitalidade na presença no filme que se desenrolava em minhas reminiscências mais remotas.

Ah, como é bom saber que podemos vê-la tão nítida em nossos pensamentos e isso nada poderá nos tirar. Ah como é doce sentir que nenhum detalhe de seu rosto nos escapará e podemos apreciar até os detalhes mais sutis de sua expressão. Ah como é tranqüilizante saber que ela está entre nós com forças e amor e que continuamos a amá-la com o mesmo vigor e admiração. Ah como é reconfortante poder transmitir a ela o nosso terno e profundo agradecimento e enviar essa saudade ao mesmo tempo magoante e verdadeira.

Hoje, dia do seu aniversário, imagino como seria seu rosto de bebê e como os anos em escalada a transformariam naquela mulher segura, imponente, estranhamente altiva ao mesmo tempo em que perceptiva. E como a natureza, o mundo é capaz de nos fazer caminhar sempre rumo a um espaço desconhecido, mas supostamente transbordante de paz e luz.

E é isso que esperamos, meus irmãos e eu, imaginando e confusamente misturando sonho e realidade, passado e presente, nostalgia e lembranças que jamais se apagarão de nossos corações, tal é a força como ficaram marcados o tempo de sua existência, os dias em que vivemos juntos, e a presença marcante que contornou nossas vidas.

Parabéns, mamãe! Por tudo que você foi e por sua presença sutil, até que nós mesmos cheguemos e possamos senti-la em nossos braços.
Vãnia Moreira Diniz

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